A FADA QUE TINHA IDÉIAS
Fernanda Lopes de Almeida
Clara Luz era uma fada, de seus dez anos
de idade, mais ou menos, que morava lá no céu, com a senhora fada sua mãe.
Viveriam muito bem se não fosse uma coisa: Clara Luz não queria aprender a
fazer mágicas pelo livro das fadas. Queria inventar suas próprias mágicas.
- Mas, minha filha – dizia a Fada-Mãe –
todas as fadas sempre aprenderam por esse livro. Por que só você não quer
aprender?
- Não é preguiça, não, mamãe. É que não
gosto de mundo parado.
- Mundo parado?
- É. Quando alguém inventa alguma coisa,
o mundo anda. Quando ninguém inventa nada, o mundo fica parado. Nunca reparou?
- Não...
- Pois repare só.
A Fada-Mãe ia cuidar de seu serviço,
muito preocupada. Ela morria de medo do dia em que a Rainha das fadas
descobrisse que Clara Luz nunca saíra da Lição Um do Livro.
A Rainha era uma velha muito rabugenta.
Felizmente vivia num palácio do outro lado do céu. Clara Luz e a mãe moravam
numa rua toda feita de estrelas, chamada Via Láctea. A casinha delas era de
prata e tinha um jardim todo de flores prateadas.
- Minha filha, faça uma forcinha, passe
ao menos para a Lição Dois! – pedia a Fada-Mãe, aflita.
- Não vale a pena, mamãe. A Lição Um já
é tão enjoada, que a Dois tem que ser duas vezes pior.
- Mas enjoada por quê?
- Ensina a fabricar tapete mágico.
- Pois então? Já pensou que maravilha
saber fazer um tapete mágico?
- Não acho, não. Tudo quanto é fada só
pensa em tapete mágico. Ninguém tem uma idéia nova!
Clara Luz estava sempre fazendo experiências
com a sua vara de condão. Já de manhã cedo, reparava no bule de prata (tudo na
casinha delas era de prata, até a mobília). Olhava para ele e tinha uma idéia:
- Tem bico. Dar um bom passarinho.
E transformava o bule em passarinho.
Mas o passarinho saía com três asas:
duas dele mesmo e uma do bule, que tinha sobrado.
A Fada-Mãe entrava na sala e levava um
susto danado:
- Que bicho esquisito é esse?
- É o bule, mamãe, que eu transformei em
passarinho.
Clara Luz! E agora? Onde vou coar o pó-de-meia-noite
para fazer o nosso café? E que idéia foi essa de fazer passarinho com três
asas? Ao menos ponha duas asas nele!
- Mas, mamãe, ele gosta de ter três
asas!
O passarinho, furioso, entrava na
conversa:
- Não gosto, não senhora! Faça o favor
de me consertar já!
- Clara Luz não acertava e quem acabava
consertando era a Fada-Mãe. O passarinho agradecia muito:
- Se não fosse a senhora eu não sei como
seria! Essa sua filha é muito intrometida.
E saíra pela janela, resmungando ainda:
- Veja só! Inventar que eu gosto de ter
três asas!
- Mas essas eram apenas as idéias
menores de Clara Luz. Havia outras maiores.
Livro: A Fada que tinha idéias,
Fernanda Lopes de Almeida, 1971.
Editora Ática, 2004.
(Proposta
de Atividade - Texto Fatiado )
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